Andreia Neto, candidata da
coligação PPD/PSD.CDS-PP, tem insistido que um dos seus principais projetos
eleitorais é a criação de um parque empresarial de 150 hectares na freguesia de
Água Longa. Segundo uma recente entrevista a um jornal bimensal que recebi gratuitamente
na minha caixa de correio pela primeira vez, “Notícias de Santo Tirso”, Andreia
Neto diz que “Santo Tirso deve seguir o exemplo de Valongo, do outro lado da
autoestrada”.
A ideia da criação de emprego
para fixar população é o principal argumento por detrás deste projeto,
aproveitando os melhores acessos do concelho ao Porto, Sul e Galiza. Seria uma
boa iniciativa, se não implicasse um impacto extremamente negativo para a
população das freguesias do Vale do Leça, que passarei a elencar em cinco
pontos.
1. Projeto Megalómano. 150 hectares de
terreno correspondem a 150 campos de futebol, espaço suficiente para alojar muitas
centenas de grandes novas empresas. Tratando-se de empresas de pequena e média
dimensão, de cariz tecnológico, podemos mesmo falar de milhares de empresas.
Este número é descabido, se considerarmos que no concelho todo temos pouco mais
de 5000 empresas, e em 2014 se criaram apenas 195 empresas novas (segundo
números da candidatura de Andreia Neto).
2. Destruição de 150 hectares de área
ecológica protegida. O local escolhido pela candidata é uma mancha
florestal que integra a reserva ecológica, sendo determinante para o equilíbrio
ambiental de todo o Vale do Leça e para a qualidade de vida das populações,
nomeadamente para as futuras gerações. No programa eleitoral da candidata,
encontra-se plasmado que “a sustentabilidade ambiental e a consequente melhoria
da qualidade de vida será uma prioridade. A Câmara Municipal deve privilegiar a
educação ambiental, e dar o exemplo, e assim o faremos.” Ora acontece que este
projeto, contemplando a destruição de 150 hectares de floresta, cujo impacto
ambiental seria brutal, descredibiliza completamente este programa eleitoral.
Os eleitores facilmente se apercebem que a área de ambiente e sustentabilidade
não será uma prioridade, antes pelo contrário.
3. Descaracterização das Freguesias do Vale do
Leça. Qualquer munícipe de Santo Tirso que atravesse as freguesias de Vale
do Leça, rapidamente constata que este território tem características próprias,
em particular um traço marcadamente rural, que o distingue do resto do
concelho. Só assim se justifica que estas freguesias ainda não tenham, em pleno
século XXI, abastecimento de água de rede pública. Se a água ainda não chegou a
estas freguesias, não é com certeza oportuno que cheguem subitamente centenas
de novas empresas. Os munícipes do Vale do Leça viveram estes anos sem água,
graças a um solo arável e um ambiente despoluído, rodeados de manchas
florestais. Não aceitarão que esse solo seja contaminado, o ambiente poluído e
a mancha florestal destruída. A ambição da candidata tem aqui um preço
demasiado a pagar.
4. Trânsito de pesados insustentável. Os
habitantes das freguesias do Vale do Leça que têm que se deslocar diariamente
para o Porto, como é o meu caso, já constataram que a estrada N105, que faz a
ligação entre Água Longa e o nó da A41 de Alfena, se encontra repleta de
camiões desde a abertura do novo entreposto da Jerónimo Martins. Trata-se de
camiões da empresa ZAS-Transportes, contratada para trabalhar exclusivamente
para o grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce), e por isso facilmente
identificáveis. Há informações publicadas que dão conta que estes camiões estão
proibidos de circular em autoestradas, e é o que se constata no terreno. É, no
mínimo, legítimo perguntar à candidata Andreia Neto o que aconteceria se estas
novas empresas (mesmo uma pequena parte) também proibissem o transporte de
mercadorias por autoestrada. Com este exemplo concreto, como poderá Andreia
Neto prometer que “não trará qualquer problema de trânsito de pesados porque
sairão e entrarão na autoestrada diretamente das suas empresas”? O trânsito na N105 seria caótico,
impossibilitando os munícipes das freguesias do Vale do Leça de ali circularem.
Paradoxalmente, teríamos os pesados de transporte a circular na estrada
nacional e os habitantes obrigados a pagar as portagens na A41, com claro
prejuízo para os munícipes de Santo Tirso.
5. Poluição ambiental e visual. Conforme
já mencionado, o território do Vale do Leça subsiste essencialmente da agricultura
e pecuária, graças a um solo arável e descontaminado, assim como abundância de
água. A candidata da coligação promete “um parque para grandes empresas não
poluidoras que criarão empregos de qualidade”. Ao destruir 150 hectares de
floresta numa zona elevada da Serra da Agrela, as consequências seriam
dramáticas para as populações do sopé desta Serra, principalmente devido à
lixiviação e contaminação dos solos e águas. A falta de água acabaria, também,
por ser uma consequência. Uma zona de lazer muito agradável e muito explorada
para passeios pedestres, BTT e motocross seria substituída por enormes pavilhões
de betão e metal, daqueles que se constroem em 3 meses e ali ficam para sempre.
Seria uma herança muito pesada para uma população, que veria a sua qualidade de
vida diminuir drasticamente e os terrenos e habitações desvalorizados. O
exemplo de áreas empresariais ao abandono do concelho vizinho de Paços de
Ferreira, e inclusive de Santo Tirso, deveriam fazer refletir a candidata. O
aproveitamento de áreas empresariais próximas, como a zona de iniciativa
empresarial que nasceu espontaneamente em Água Longa, mais concretamente no
percurso que liga a freguesia ao concelho da Trofa através da EN 318, seria uma
decisão aceitável e que não colidiria com os interesses das populações.
Não existem muitas áreas de
mancha florestal com esta dimensão no concelho de Santo Tirso, com a vantagem
de estar muito próximo da cidade do Porto. Uma estratégia de longo prazo,
componente crítica para a sustentabilidade e, em última análise, a
sobrevivência humana, consiste em manter áreas representativas dos vários ecossistemas
do mundo num estado razoavelmente intacto e funcional. O designado ecoturismo
está na ordem do dia, à escala global, sendo o principal desafio que a
indústria do turismo enfrenta. Esta área ecológica protegida tem um enorme
potencial turístico por explorar, em particular destinado ao ecoturismo e
turismo de natureza. Pede-se que um candidato à Câmara Municipal tenha visão de
longo prazo, o que implica conhecimento de programas estratégicos europeus e
mundiais. Estamos rodeados de casos que demonstram que a ambição do curto prazo
tem efeitos nefastos e irreversíveis, pagos pelas gerações futuras.
Não querendo acreditar que a
candidata Andreia Neto, natural de S. Martinho do Campo, pretenda prejudicar
intencionalmente as populações do Vale de Leça, é no mínimo plausível pensar
que o possa fazer por falta de conhecimento destas freguesias. Enquanto
munícipe e eleitor de Santo Tirso, que nunca teve qualquer envolvimento em
movimentos políticos, independentes ou partidários, não ficaria bem com a minha
consciência se não alertasse a equipa da candidata Andreia Neto, para os
impactos negativos deste projeto eleitoral. Faço-o como pai, que deseja que os
filhos cresçam num ambiente saudável e descontaminado, como hoje existe.
Faço-o, também, na qualidade de cidadão, que deseja o melhor para a comunidade
da sua freguesia, o seu concelho e o seu país.