domingo, 1 de fevereiro de 2015

Não vale tudo, Djoko!

Novak Djokovic é o melhor tenista da atualidade. É o número 1 mundial há já algum tempo, posição por todos invejada e que tem mantido com alguma regularidade nos últimos anos.
 
É, a meu ver, o tenista mais equilibrado que já vi jogar. Excelente primeiro serviço, excelente segundo serviço, excelente direita e a melhor esquerda a duas mãos do circuito. Novak não tem pontos fracos, nem sequer médios. Tudo nele é equilíbrio, baseado nos excelentes apoios e jogo de pés. Resumindo, a melhor movimentação dentro do court e a mente mais forte fora dele.
 
Tudo isto basta (e tem bastado, na verdade) para vencer tudo e todos. Se num dia normal, Djoko distribui "bicicletas" a colegas do top 20, quando num dia excecional são os top 10 a encaixá-lo. Que o diga o virtuoso Stanislas Wawrinka, que encaixou dois 6-0 nos dois últimos duelos com Djoko.
 
No entanto, e apesar de todas estas qualidades, e a liderança incontestada do ranking, o sérvio não consegue granjear grande popularidade. Se é certo que também não tem de sofrer ódios de estimação por parte dos adeptos, ao contrário de outros, é um jogador longe de arrastar multidões ou de ser alvo de paixões.

E, se calhar, nesta final do Australian Open 2015 encontrámos a explicação para tal. Como referi anteriormente, Djokovic tinha ténis suficiente para derrotar o seu amigo Andy Murray, nem que para isso fosse necessário disputar 5 sets. Era isso que o público queria ver, depois do escocês ter vencido o tie-break do segundo set. 1-1 no marcador, num encontro extremamente equilibrado e com um final de segundo set repleto de grandes rallies, à semelhança do que já tinhamos assistido em finais deste torneio (quem não se recorda da épica final de 2012 entre Djokovic e Nadal, que demorou praticamente 6 horas?!). Notava-se um ligeiro ascendente de Murray à entrada para o terceiro set. Eis senão quando começa o triste espetáculo do sérvio. Coxeia daqui, diz que não com a cabeça, debruça-se para ali, destata a fazer alongamentos, tudo isto em pleno court. Murray lidera 2-0, depois de Djoko desistir de disputar alguns pontos, como a dizer que está em inferioridade física, quase sem condições de continuar a jogar esta final. Murray tem ponto, no seu serviço, para ficar com 3-0 na terceira partida e já muitos viam o escocês a erguer o troféu. Mas Murray jogava desconcentrado, pelo triste espetáculo que o seu amigo ia dando. E Novak conseguiu alcançar o seu objetivo: desconcentrar Murray, que a partir daí nunca mais foi o mesmo. Erros não forçados, a direita que não entrava, os ases que desapareceram. Não mais sucederam aqueles espetaculares rallies do segundo set e em pouco mais de 1 hora concluiu-se uma final de um Grand-Slam que não ficará para a história. Diga-se, só por curiosidade, que a segunda partida teve a duração de 80 minutos, mais 13 minutos do que a terceira e quarta juntas. Para a história, ficam os parciais de 7-6, 6-7, 6-3 e 6-0.
 
Não me recordo, e já levo alguns anos de finais de Grand-Slams, de um fim de encontro tão pouco emotivo, concluído com um 6-0 em 28 minutos.
 
Novak conquistou o seu quinto título em Melbourne e continuará a ser número 1 do ranking ATP. Mas não se livrou de alguns apupos e assobios e até de uma saudação final muito fria do seu amigo escocês. E é provável que nos próximos Grand-Slams os admiradores do fair-play não lhe perdoem a sua atitude nesta final. Porque, no ténis, não vale tudo Djoko!