sábado, 10 de novembro de 2012

Definição de Saudade

Um dia, um anjo passou por mim...

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada, porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapia e radioterapia.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção.
Meu anjo respondeu:
- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondida nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim.
Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é? (Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo: - E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não tio? “Saudade é o amor que fica!


Encontrei hoje, por acaso, este texto escrito pelo Dr. Rogério Brandão, médico oncologista clínico. Saudade foi considerada a sétima palavra mais difícil de traduzir por uma empresa britânica de traduções, Today Translations. "Saudade é o amor que fica!" é a melhor definição que eu alguma vez encontrei para esta palavra. Desafio alguém a dar uma definição mais completa, mais direta e mais simples.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Antítese de um encontro de ténis


O2 Arena de Londres, 8 de novembro de 2012. Fatigados, mental e fisicamente, sem brilho e provavelmente sem ambição de passar às meias finais da ATP Championships Final, Del Potro e Tipsaveric proporcinaram o "pior" encontro de ténis a que tive oportunidade de assistir este ano de 2012 (incluindo encontros do circuito feminino). Confesso que as expetativas já não eram muitas, mas... era um encontro do Masters dos Masters, onde apenas os 8 melhores jogadores do mundo têm o direito de marcar presença. Del Potro entrou concentrado, pois sabia que era a última oportunidade de se apurar para a ronda seguinte, depois de derrotado por Ferrer no primeiro encontro de Londres. Serviço canhão, direita canhão a "pintar" as linhas e Tipsarevic a sair de "bicicleta" (6-0) deste primeiro set. A linguagem corporal do jogador sérvio já dava sinais de derrota assumida, e nem o sentimento de piedade do público, silenciado por um jogo sem ponta de emoção, contagiou Tipsarevic. Assistiu-se a um arrastar penoso do número 8 do ranking ATP, que lá ia ganhando os seus jogos de serviço com alguma dificuldade. Na segunda partida (6-3) ainda consegui encontrar dois pontos bem construídos, com uma relativamente longa troca de bolas, e com alguma emoção. Foram as duas únicas ocasiões que o público da Arena de Londres aplaudiu efusivamente os jogadores, na esperança de mudar o rumos dos acontecimentos. Mas não... o estilo do jogador Argentino é mesmo assim, apesar de idolatrado por muitos. E não se poderia pedir mais a um jogador que, apesar de fazer parte da elite mundial do ténis, não conseguiu mais do que atingir os QF de um GS (US Open, 2011). Uma hora e dezassete minutos que eu não desejo ver repetidos nos próximos tempos. Felizmente, é deveras raro assistir a uma antítese de um encontro de ténis.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Djokovic v Murray


Passaram pouco mais de tês semanas desde a última vez que estes dois jogadores se defrontaram (ver post de 14 de outubro). De Shanghai para a O2 Arena de Londres. Hoje não era uma final, apenas um encontro do Grupo A da ATP World Tour Finals 2012, que se disputa entre os 8 melhores jogadores da atualidade.
 
Curiosamente, a história repetiu-se. Murray não poderia desejar uma melhor entrada, com a quebra do serviço do seu opositor e um jogo de serviço em branco, que lhe deu o 2-0. A superioridade do escocês no primeiro set (6-4) não ofereceu dúvidas a ninguém, nem mesmo ao sérvio, que acabaria por referir na entrevista final que quando Murray atinge aquele nível, nem ele o consegue parar. Se é certo que este encontro não atingiu o brilhantismo ou o dramatismo do disputado há três semanas, houve momentos de grande intensidade e de ténis de elevado nível. Djokovic, já se sabe, é o jogador do circuito mais forte mentalmente e, como seria de esperar, não se deixou abater e acabou por vencer a segunda partida sem grande surpresa, por 6-3. Andy começou mal o terceiro set, com reações que fizeram lembrar aquele jogador derrotado que há dois ou três anos nos habituámos a ver nas finais de GS. Mas os conselhos de Lendl apareceram ao oitavo jogo da terceira partida que, após estar a perder por 1-3, conseguiu equilibrar para 4-4, com quebra de serviço de Nole. Pensou-se que Murray, a jogar perante o seu público, já não iria deixar fugir o encontro. Mas quem está por dentro do ténis atual, e conhece o espírito predador e ganhador de Novak Djokovic, sabia que o sérvio iria dar tudo o que conseguisse a partir daquele momento. E assim aconteceu. Nole foi buscar o seu melhor ténis, que não por acaso faz dele o número um da atualidade, e a partir daí não há nada a fazer. O serviço volta a aparecer, e os pontos decisivos a cairem para o número um. Apesar de um certo equilíbrio, que se tem registado entre estes dois grandes tenistas, Novak acabaria por vencer uma vez mais (4-6, 6-3, 7-5) e assim assumir a liderança do Grupo A, que eventualmente evitará o seu encontro com Roger Federer nas meias-finais do torneio.

Jerzy Janowicz

Já ouviu falar de Jerzy Janowicz?    Não?!!
Então prepare-se porque este nome vai ser, muito em breve, dos mais falados no mundo do ténis.
Polaco, 21 anos, 203 cm e 91 kg. Começou a jogar ténis com 5 anos de idade por brincadeira com os seus pais, ambos jogadores profissionais de voleibol. Fã incondicional de Pete Sampras, considera-se muito hábil com computadores. Espera, a partir desta semana, conseguir patrocinador que lhe permita pagar a viagem e estadia na Austrália, onde se disputa o seu GS preferido, mas no qual ainda não pode participar por falta de meios financeiros.
 
 Este é um breve perfil pessoal deste jovem polaco desconhecido que, numa única semana, derrotou (só) cinco jogadores Top 20, incluindo Andy Murray. Uma semana de sonho em Paris (2012 Paris Masters), que o próprio não consegue explicar, que lhe valeu a 26ª posição no ranking ATP e ser considerado o melhor tenista polaco se sempre.
 
Entrou no torneio Masters 1000 de Paris como qualifier, e qualificou-se para a final após derrotar tenistas como Andy Murray e Janko Tipsarevic, Giles Simon, Marian Cilic e Philipp Kohlschreiber. Acabou por ser derrotado na final, por 2 sets (4-6, 3-6) pelo espanhol David Ferrer, que acabaria por vencer o seu primeiro torneio Masters 1000.
 
Dotado de um seviço potente, típico de jogadores da sua estatura, e de uma direita muito forte, o que mais surpreendeu neste jogador foi a sua mobilidade no court e a inteligência do seu jogo, também caracterizado por um amortie mortal. Fiquem a saber por que razão Jerzy gerou tanto entusiasmo nesta semana que passou.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Internet está a criar alunos preguiçosos


Quase dois terços dos professores do ensino secundário norte-americano acreditam que a internet está a criar alunos mais preguiçosos. Esta é a conclusão de  um estudo conduzido no Pew Research Center, "How Teens Do Research in the Digital World".
De acordo com a maioria dos professores entrevistados, a internet tem tido um impacto positivo nos trabalhos de pesquisa dos alunos, permitindo-lhes aceder a informações mais amplas e variadas mas, ao mesmo tempo, também tem contribuído para formar “uma geração que se distrai facilmente e com um curto período de concentração”.


76% dos professores entrevistados acreditam que, com a internet, os estudantes habituaram-se a encontrar a informação procurada de forma fácil e rápida, o que reduziu a sua disposição e aptidão para a elaboração de pesquisas mais profundas. Outra das preocupações reveladas no estudo, e citada por 60% dos entrevistados, é a falta de qualidade das informações online, já que nem sempre os estudantes conseguem distinguir as fontes mais fiáveis das outras. De acordo com estes dados, cerca de 50% dos professores julgam que os estudantes deveriam ter aulas de pesquisa online, de modo a perceberem a melhor forma de aproveitar os recursos da internet.

domingo, 4 de novembro de 2012

Fed Cup Final 2012


O2 Arena, Praga, Républica Checa, 3 de novembro de 2012. Final da Fed Cup 2012. Eu estive lá, bem no meio de 14000 checos em delírio e algumas centenas de sérvios. Républica Checa contra Sérvia. Kvitova e Safarova contra Ivanovic e Jankovic.

Começando pelo recinto onde, daqui a 2 semanas, terá lugar a Final da Davis Cup, entre Républica Checa e Espanha. Construído em 2004 para albergar a Final do Campeonato do Mundo de Hóquei no Gelo, a O2 Arena é hoje principalmente usada para concertos, sendo a maior sala de concertos de Praga, com capacidade para 18000 espetadores. De fácil acesso, quer por metro (linha B) quer por comboio ou autocarro, foi planeada para acolher os maiores espetáculos, desportivos ou de entretenimento, da cidade.

O encontro de abertura opunha a ex-número 1 mundial, Ana Ivanovic, à atual número 17 do ranking, Lucie Safarova. A checa, que acabaria por ser a figura desta final e confessar que terá jogado o melhor ténis da sua carreira, aproveitou muito bem os break-points a seu favor. Ao quebrar duas vezes o serviço de Ivanovic, que até serviu melhor do que é habitual, uma das quais com 40-0, fechou o primeiro set por 6-4. Safarova jogou ainda melhor na segunda partida, onde se começou a ver uma Ana Ivanovic desesperada, com gestos de descontentamento que acabam por ser sempre aproveitados pelos adversários a seu favor. E aqui não houve exceção e a checa fechou a segunda partida por 6-3, dando o primeiro ponto à equipa da Républica Checa, para delírio dos 14000 checos na Arena de Praga.

Depois de um  intervalo retemperador, onde tive oportunidade de conhecer melhor a Arena e até estar a alguns centimetros da Taça Davis que em breve vai ser entregue à nação checa ou espanhola, teve início o segundo encontro do dia, entre a tenista checa mais conhecida da atualidade, Petra Kvitova e Jelena Jankovic, ex-número 1 mundial, embora sem vencer um único Grand-Slam. Kvitova, pelo contrário, ao vencer o Torneio de Wimbledon e o WTA Championships, foi  considerada a jogadora do ano em 2011. A sérvia entrou bem no jogo, com um serviço bem colocado. Kvitova, que foi recentemente afetada por uma bronquite, que a fez desistir do Masters deste ano, rapidamente se recompôs. O primeiro set foi bastante equilibrado e, na minha opinião, melhor jogado do que o primeiro encontro desta Final. A esquerdina checa (curiosamente Safarova também é esquerdina), ajudada pelo seu excelente jogo de serviço e de rede (típico do ténis checo) impôs-se na primeira partida por 6-4. Jankovic teve um mau início de segundo set, talvez desmoralizada pelos 3 sets até então perdidos pelas sérvias nesta final, e muito rapidamente Kvitova, motivada pelo seu ruidoso público, fez o 5-0. Esta partida acabaria com 6-1 a favor da checa e o primeiro dia terminava com 2 pontos para a Républica Checa e 0 para a Sérvia. 

Não tive oportunidade de assistir ao segundo dia da Fed Cup Final, que ficou praticamente decidida após os 2 primeiros encontros. O primeiro embate do dia opunha Ana Ivanovic contra Petra Kvitova. A sérvia, talvez com o seu orgulho ferido, venceu inesperadamente por 6-3 e 7-5, dando um novo alento à equipa sérvia. No entanto, apareceu Lucie Safarova, que acabaria por ser a estrela desta final. A jogadora checa menos cotada, que tinha lançado no dia anterior o seu país para a vitória, não seu qualquer hipótese a Jankovic. Os parciais de 6-1 e 6-1 ilustram bem a superioridade de Safarova. Jankovic terminou o encontro em lágrimas, queixando-se de fortes dores nas costas. Enquanto isso, a equipa checa, que nem precisou de disputar o quinto jogo (duelo de pares), celebrava com o seu público, na Arena de Praga, a segunda vitória consecutiva da Fed Cup e, assim, a liderança no ranking das nações no ténis feminino.


Parabéns à equipa checa, constituída por Petra KVITOVA, Lucie SAFAROVA, Lucie HRADECKA, Andrea HLAVACKOVA, e liderada por Petr PALA.